SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

Hoje celebramos a maior de todas as solenidades da Mãe de Deus: a sua Assunção gloriosa ao céu.

A oração inicial da Missa hodierna pediu: “Deus eterno e todo-poderoso, que elevastes à glória do Céu em corpo e alma a imaculada Virgem Maria, Mãe do vosso Filho, dai-nos viver atentos às coisas do alto, a fim de participarmos da sua glória”. A liturgia da Igreja, sempre tão sábia e tão sóbria, resumiu aqui o essencial desta Solenidade santíssima. Com efeito, Deus elevou à glória do Céu em corpo e alma a imaculada Virgem Maria! Ela, uma simples criatura, ela, tão pequena, tão humilde, em corpo e alma, foi eleva a Deus, ao Céu, à plenitude de Cristo Jesus imolado e ressuscitado! Como isto é possível? Não é a morte o destino comum e final de tudo quanto vive? – Isto dizem os pagãos, isso dizem os descrentes, os sábios segundo o mundo, que se conformam com a morte… Mas, nós, nós sabemos que não é assim! Nosso destino é a Vida, a plenitude de Cristo nosso Deus, nosso ponto final é a glória no coração do Deus vivo e vivficante: glória no corpo, glória na alma, glória em tudo que somos! Foi isso que Deus nos preparou – bendito seja Ele para sempre!

Mas – insistimos na pergunta –, como isto é possível? A Palavra de Deus deste hoje no-lo afirma, de modo admirável. Escutai, irmãos, escutai, irmãs, consolai-vos todos vós: “Cristo ressuscitou dos mortos, primícias dos que morreram. Em Cristo todos reviverão, cada qual segundo uma ordem determinada; em primeiro lugar Cristo, como primícias!” Eis por quê: porque Cristo ressuscitou! Eis como ressuscitaremos: como Cristo ressuscitou! Jesus de Nazaré, caríssimos, agora imolado e ressuscitado em glória, é o Senhor! O nosso Jesus é Deus bendito e foi ressuscitado pela Glória do Pai! O nosso Senhor Jesus venceu e nos faz participantes da Sua Vitória, dando-nos o Seu Espírito Santo de glória e ressurreição! Credes nisso, meus caros? Neste mundo que só crê no que vê, que só leva a sério o que toca, que só dá valor ao que cai no âmbito dos sentidos, credes que Cristo está vivo e é Senhor, primícias, princípio de Vida eterna, divina e imperecível para todos os que morrem unidos a Ele?

Pois bem, escutai: o Cristo que ressuscitou, que venceu, concedeu plenamente a Sua Vitória à Sua Mãe, à Santíssima Virgem Maria, que esteve sempre unida a Ele. Ela, totalmente imaculada, nunca se afastou do filho: nem na longa espera do parto, nem na pobreza de Belém, nem na fuga para o Egito, nem no período de exílio, nem na angústia de procurá-Lo no Templo, nem nos anos obscuros de Nazaré, nem nos tempos dolorosos da pregação do Reino, nem no desastre da Cruz, nem na solidão do sepulcro no Sábado Santo. Nem mesmo após, nos dias da Igreja, quando discretamente, ela permanecia em oração com os irmãos do Senhor… Sempre imaculada, sempre perfeitamente unida ao Senhor. Assim, após a sua preciosa morte, ela foi elevada à glória do Céu, isto é, à glória de Cristo que ressuscitou como primícias da nossa ressurreição! Que coisa admirável! Hoje, cumpre-se, na Virgem Santíssima, a palavra da Escritura, a certeza da Escritura: “Fiel é esta palavra: se com Cristo morremos, com Ele viveremos; se com Ele sofremos, com Ele reinaremos” (2Tm 2,11-12).

A presente Solenidade é, então, primeiramente, exaltação da glória do Cristo: Nele está a Vida e a Ressurreição; Nele, a esperança, a certeza, as primícias da libertação definitiva do pecado, desta vida limitada e da morte! Por isso, todo aquele que crê em Jesus Cristo e é batizado no Seu Espírito Santo no sacramento do Batismo, morrerá com Cristo e com Cristo ressuscitará. Imediatamente após a morte, nossa alma será glorificada e estaremos para sempre com o Senhor. Quanto ao nosso corpo, será destruído, mas, no final dos tempos, quando Cristo nossa vida aparecer, será também ressuscitado em Glória e unido à nossa alma. Será assim com todos nós! Mas, não foi assim com a Virgem Maria! Aquela que não teve pecado também não foi tocada pela corrupção da morte! Imediatamente após a sua passagem para Deus, ela foi ressuscitada, glorificada em corpo e alma, foi elevada ao Céu, na Glória de Cristo, glorioso e glorificante!

Podemos, portanto, exclamar como Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres! Bendito é o Fruto do teu ventre! Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu!”

Esta é, portanto, a festa de plenitude de Nossa Senhora, a sua chegada à Glória, no seu destino pleno de criatura. Nela, aparece claramente a obra da salvação que Cristo realizou! Ela é aquela Mulher vestida do Sol, que é Cristo, pisando a instabilidade deste mundo, representada pela lua inconstante, toda coroada de doze estrelas, número da Israel e da Igreja! A leitura do Apocalipse mostra-nos tudo isso; mas, termina afirmando: “Agora realizou-se a salvação, a força e a realeza do nosso Deus e o poder do Seu Cristo!” Eis: a plenitude da Virgem é realização da obra de Cristo, da vitória de Cristo nela!

Caríssimos, quanto nos diz esta Solenidade! A oração inicial, citada no início desta homilia, pedia a Deus: “Dai-nos viver atentos às coisas do Alto, a fim de participarmos da sua Glória”. Eis aqui qual deve ser o nosso modo de viver: atentos às coisas do alto, onde está Cristo, onde contemplamos a Virgem totalmente glorificada em Cristo; caminhando neste mundo sem nos prendermos a ele. Aqui, somos estrangeiros; aqui, estamos de passagem; aqui, somos peregrinos; lá é que permaneceremos para sempre: nossa pátria é o Céu, onde está Cristo, nossa Vida imperecível!

O grande mal do mundo atual é entreter-se com seu consumismo, com sua tecnologia, com seu bem-estar, com seu divertimento excessivo e esquecer de viver atento às coisas do Alto. Mas, pior ainda, os cristãos também muitas vezes são infectados por esta doença! Nós, que deveríamos ser as testemunhas do mundo que há de vir, quantas vezes vivemos imersos, metidos somente nas ocupações deste mundo – muitos até com o pretexto de que estão trabalhando pelos irmãos e por uma sociedade melhor. Nada disso! “Sursum corda!” Corações ao Alto! Os pés devem estar na terra, mas o coração deve estar sempre voltado para o Alto! “Se ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do Alto, onde Cristo está sentado à Direita de Deus! Pensai nas coisas do Alto, e não nas da terra, pois morrestes e a vossa vida está escondida com cristo em Deus” (Cl 3,1s). Não esqueçamos: nosso destino é o Céu, participando da Glória de Cristo, da qual a Virgem Maria já participa plenamente, em todo o seu ser, corpo e alma! Aí, sim, poderemos cantar com ela e como ela: “A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador: o Poderoso fez em mim maravilhas!” Seja Ele bendito agora e para sempre, na Virgem Maria toda Santa, na Igreja e em cada um de nós! Amém.

Com a Assunção da Virgem Maria, vislumbramos o plano salvífico de Deus, que nos dá por vocação a glorificação da nossa vida quando ocorrer a volta gloriosa de Cristo, no fim dos tempos. Como a Mãe de Deus correspondeu à essa vocação, que nela já está consumada? O Evangelho desta solenidade narra que, depois do anúncio do Anjo, “Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente (…)” (v. 39). São Lucas deseja evidenciar que, após a Anunciação (Lc 1,26-38), cheia do Espírito Santo e portando em seu seio o Verbo encarnado, a Virgem começa a trilhar um novo caminho: aquele que Deus havia preparado para ela, com a vocação da maternidade divina e de participar intimamente da vida e da missão de seu Filho. Como foi com Maria, assim é com cada cristão: um caminho de subida no seguimento de Jesus, realizado “apressadamente” rumo a um futuro já traçado por Deus. São Paulo descreve esse caminho nos seguintes termos: “esquecendo-me do que fica para trás e avançando para o que está adiante, prossigo para o alvo, para o prêmio da vocação do alto, que vem de Deus em Cristo Jesus” (Fl 3,13b-14).

Desse modo, contemplamos na Assunção da Virgem, aquela que já alcançou este prêmio, esta vocação do alto, esta meta para a qual nos dirigimos, enquanto peregrinos nesta vida. Então, Maria, assunta ao Céu, já participa da vitória definitiva de Cristo sobre a morte. O Catecismo da Igreja Católica nos diz: “A Assunção da Santíssima Virgem constitui uma participação singular na Ressurreição do seu Filho e uma antecipação da Ressurreição dos demais cristãos” (CIgC, n. 966). A importância da Assunção da Virgem para nós está relacionada com a Ressurreição de Jesus Cristo e a nossa Ressurreição. O fato de que Maria esteja em corpo e alma já glorificada no Céu é a antecipação da nossa própria Ressurreição, pois ela é um ser humano como nós. Por isso, ela é, verdadeiramente, causa de nossa esperança.

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