Em Cristo somos todos irmãos

Dom Edney Gouvêa Mattoso
Bispo de Nova Friburgo (RJ)

Caros amigos, na semana passada refletimos sobre a importância de se romper com o pensamento individualista para que surja uma sociedade mais solidária e fraterna. Para isto, se faz necessário vencer a desordem generalizada que se propaga pela difusão de uma cultura distante e hostil à tradição cristã e que distancia as pessoas.

Estamos inseridos num ambiente cultural relativista, animado pelos ídolos do poder, da riqueza e do prazer efêmero que culmina na degradação da dignidade humana e do bem comum. Muitos de nossos irmãos sofrem a degradação e o abandono, fruto de uma sociedade vazia de amor e solicitude. É triste perceber que nesta dinâmica o homem passa a valer pelo que produz ou pelo que possui.

É lamentável a situação atual de serviços públicos básicos como saúde, educação, entre outros. Em nosso país, o descaso com o sistema público de saúde faz aumentar o sofrimento de grande parcela da população, onde muitos morrem na espera de atendimento.

Não se pode esquecer que a busca desenfreada pelo lucro e pelo poder, opõe-se à natureza social própria do homem, fechando-o em si mesmo e em seus próprios interesses. Quanto perdemos o sentido de pertença e de corresponsabilidade, isentamo-nos da dor do outro e nos justificamos com afirmações do tipo: “lamento, mas não me diz respeito”, “não tenho tempo, não posso, não é da minha conta”.

No mundo dilacerado pela lógica individualista, é necessário cuidar para não perder a capacidade de sentir compaixão. Ao refletir sobre a parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10,25-37), o Papa Francisco nos convida a fazermos um exame de consciência. Usando o exemplo dos moradores de rua, o Pontífice questionou: “Como nos comportamos diante de alguém caído no chão?”. E completou: “Se diante de uma pessoa necessitada, você não sente compaixão, o seu coração não se comove, significa que algo não funciona. Fique atento, estejamos atentos. Não nos deixemos levar pela insensibilidade egoística” (Angelus, 14 jul. 2019).

Somos impelidos pelas palavras do Evangelho a sermos ‘bons-samaritanos’, que ao verem a precariedade da vida dos irmãos fazem-se próximos, compartilhando não só seus bens materiais, mas a própria humanidade.

A Igreja, sempre atenta aos rumos da vida humana na sociedade, convida seus filhos a saírem de si, olharem ao redor e contemplarem a figura de Cristo em todos os irmãos, principalmente nos que sofrem e são marginalizados.

É missão de todo povo cristão testemunhar o amor de Deus. Neste sentido, tenhamos sempre em mente que “a misericórdia diante de uma vida humana na situação de necessidade é a verdadeira face do amor” (idem).

Iluminemos, portanto, nossas práticas de caridade com o reconhecimento de que em Cristo somos todos irmãos (cf. Mt 23, 8), respeitando a liberdade e a dignidade da pessoa que recebe o auxílio, cuidando para que não sejam maculadas pelas tentações de vantagens pessoais, ou mesmo pelo simples alívio da consciência.

FONTE: CNBB