Raimundo de Lima – Cidade do Vaticano
“A santidade não está no elevar-se mas em humilhar-se: não é uma subida na classificação, mas confiar dia a dia a própria pobreza ao Senhor, que realiza grandes coisas com os humildes.” Foi o que disse o Papa Francisco na missa celebrada na Basílica Vaticana na manhã deste sábado, 29 de junho, solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, na qual abençoou os pálios destinados aos trinta e um arcebispos metropolitanos nomeados nos últimos doze meses, dos quais três brasileiros.
ÁUDIO
Na homilia da santa missa concelebrada, entre outros, por estes arcebispos metropolitanos de recente nomeação, o Pontífice ateve-se à figura dos Santos Pedro e Paulo, colunas da Igreja que em Roma sofreram o martírio qual testemunhas do Evangelho.
De fato, Francisco destacou que os dois apóstolos “aparecem aos nossos olhos como testemunhas. Nunca se cansaram de anunciar, viver em missão, a caminho, desde a terra de Jesus até Roma. E aqui levaram o seu testemunho até ao fim, dando a vida como mártires”.
A partir daí, o Papa desenvolveu sua reflexão sobre Pedro e Paulo qual testemunhas de vida, testemunhas de perdão e testemunhas de Jesus.
Testemunhas de vida
Testemunhas de vida… e, todavia, as suas vidas não foram límpidas nem lineares, destacou o Pontífice. “Eram ambos de índole muito religiosa: Pedro, discípulo da primeira hora; Paulo, acérrimo defensor das tradições dos pais. Mas cometeram erros enormes: Pedro chegou a negar o Senhor; Paulo, a perseguir a Igreja de Deus”.
Jesus chamou-os pelo seu nome e mudou a sua vida. E, depois de todas estas aventuras, fiou-Se deles, dois pecadores arrependidos. Poderíamos perguntar-nos: Porque é que o Senhor não nos deu duas testemunhas integérrimas, com a ficha limpa, com a vida ilibada? Porquê Pedro, quando havia João? Porquê Paulo e não Barnabé? – frisou Francisco, acrescentando que nisto encerra-se uma grande lição:
“O ponto de partida da vida cristã não está no fato de ser dignos; com aqueles que se julgavam bons, bem pouco pôde fazer o Senhor. Quando nos consideramos melhores que os outros, é o princípio do fim. O Senhor não realiza prodígios com quem se crê justo, mas com quem sabe que é necessitado. Não é atraído pela nossa habilidade, não é por isso que nos ama. Ele ama-nos como somos, e procura pessoas que não se bastam a si mesmas, mas estão prontas a abrir-Lhe o coração. Pedro e Paulo apresentaram-se assim transparentes diante de Deus.”
Pedro disse-o imediatamente a Jesus: «Sou um homem pecador». Paulo escreve que era «o menor dos apóstolos, nem [era] digno de ser chamado Apóstolo». E, na vida, mantiveram-se nesta humildade até ao fim, prosseguiu o Papa.
Testemunhas de perdão
Qual foi o segredo que, no meio das fraquezas, os fez continuar para diante? O perdão do Senhor, disse Francisco. “Descubramo-los, pois, como testemunhas de perdão.
“Nas suas quedas, descobriram a força da misericórdia do Senhor, que os regenerou. No seu perdão, encontraram uma paz e alegria irreprimíveis. Com o mal que fizeram, poderiam viver com sentimentos de culpa: quantas vezes terá Pedro pensado na sua negação! Quantos escrúpulos para Paulo, que fizera mal a tantas pessoas inocentes! Humanamente, faliram; mas encontraram um amor maior do que os seus fracassos, um perdão tão forte que curava até os seus sentimentos de culpa. Só quando experimentamos o perdão de Deus é que renascemos verdadeiramente. Recomeça-se daqui: do perdão.”
Testemunhas de Jesus
Testemunhas de vida, testemunhas de perdão, Pedro e Paulo são sobretudo testemunhas de Jesus, continuou o Pontífice. “Para a testemunha, mais do que um personagem da história, Jesus é a pessoa da vida: é o novo, não o já visto; a novidade do futuro, não uma lembrança do passado. Por isso, não é testemunha quem conhece a história de Jesus, mas quem vive uma história de amor com Jesus. Porque, no fundo, o que a testemunha anuncia é apenas isto: Jesus está vivo e é o segredo da vida”, disse ainda.
Diante destas testemunhas, interroguemo-nos: Renovo eu cada dia o encontro com Jesus? Talvez sejamos curiosos sobre Jesus, talvez nos interessemos por coisas de Igreja ou notícias religiosas. Abrimos sites e jornais, e conversamos sobre coisas sagradas. Mas, assim, ficamos no que dizem os homens, nas sondagens, no passado. Mas isto, a Jesus, interessa-Lhe pouco. Não quer repórteres do espírito, e muito menos cristãos de capa de revista. Ele procura testemunhas, que Lhe digam dia a dia: «Senhor, Tu és a minha vida», ressaltou o Papa.
Francisco exortou-nos a pedir “a graça de não ser cristãos tíbios, que vivem de meias medidas, que deixam resfriar o amor. Encontremos as nossas raízes na relação diária com Jesus e na força do seu perdão. Como a Pedro, Jesus pergunta também a ti: Quem sou Eu, para ti? Amas-me tu? Deixemos que estas palavras penetrem dentro de nós e acendam o desejo de não nos contentarmos com o mínimo, mas de apontar para o máximo: sermos, também nós, testemunhas vivas de Jesus”, exortou o Papa..
Os pastores não vivem para si mesmos, mas para as ovelhas
Francisco concluiu referindo-se aos pálios precedentemente por ele abençoados no início da celebração eucarística. Destacou que o pálio recorda a ovelha que o Pastor é chamado a carregar aos ombros: “é sinal de que os Pastores não vivem para si mesmos, mas para as ovelhas; é sinal de que, para possuir a vida, é preciso perdê-la, dá-la”.
Dos trinta e um arcebispos metropolitanos precedentemente mencionados, os três brasileiros são o de Vitória (ES), Dom Dario Campos; o de Montes Claros (MG), Dom João Justino de Medeiros Silva; e o de Campinas (SP), Dom João Inácio Mϋller.
Por fim, Francisco saudou a Delegação do Patriarcado Ecumênico, presente na celebração, “segundo uma bela tradição”, frisou. “A vossa presença lembra-nos que não podemos poupar-nos sequer no caminho rumo à plena unidade entre os crentes, na comunhão em todos os níveis.”