Fernando Nunes – Londrina
Quando fotografamos uma celebração litúrgica (casamento, batizado, missa), buscamos “capturar” dos sinais e símbolos litúrgicos aquilo que os olhos não podem ver. As lentes da câmera ajudam romper as barreiras impostas pelas limitações humanas e fazer uma experiência do céu.
O sentido da visão humana unida ao sentido da fé é algo essencial para enxergar as realidades sobrenaturais que não vemos, mas que estão implícitas em toda a criação. Devemos, portanto, “treinar os olhos da alma”, deixar que a fé venha, por suplemento, os sentidos completar, como diz São Tomás de Aquino.
Para criar imagens que reflitam verdadeiras experiências de fé, primeiro, é preciso vivenciar pessoalmente essas experiências, pois, corre-se o risco de obter uma imagem qualquer, vazia de significado.
Portanto, o fotógrafo que se dispõe a registrar uma ação litúrgica, precisa conhecê-la e, conhecendo-a, verdadeiramente a amará. Assim nos diz Santo Agostinho: “Só se ama aquilo que se conhece”. O tema “fotografia e liturgia” está entre as dúvidas mais frequentes dos fotógrafos. Obter orientações para sanar as dúvidas e realizar um bom trabalho como fotógrafo é de suma importância, sem esquecer, é claro, a maior de todas as regras: o amor.
Conhecer e amar
Para sanar as muitas dúvidas sobre a fotografia no âmbito litúrgico, é preciso saber que a liturgia precede a fotografia. Antes de nos preocupar com o “clique”, devemos estudar, conhecer profundamente a Liturgia. Esse é o primeiro passo, o remédio para muitas de nossas dúvidas.
Preocupar-se somente com o que fazer, com a regência do “posso ou não posso” demonstra o quanto podemos ser superficiais. Quando “mergulho” com profundidade naquilo que estou fotografando (rito, espaço, etc) acontece uma mudança, não somente da postura, como de toda a escrita da fotografia: a imagem torna-se religiosa, ou seja, uma imagem que nos religa ao sagrado.
Cristo é o centro da Liturgia e não podemos, com nosso descuido e indiscrição também chamado de “ruídos litúrgicos” –, antepor a Ele. Assim como na liturgia, também na fotografia, quando algo de indesejado aparece em sua composição visual, chamamos de “ruído fotográfico”. Será que em muitos casos, não estamos nós, durante nosso trabalho, sendo “ruídos litúrgicos”?
O fotógrafo deve “desaparecer” durante a ação litúrgica, fazendo com que durante o seu trabalho, brilhe Aquele que é o centro da nossa existência: “É preciso que Ele cresça e que eu diminua” (Jo 3,30).
Regras quanto a fotografia no espaço litúrgico
Acredito que este seja o tema mais esperado nesta matéria. Entretanto, devemos respeitar a hierarquia da Igreja, cada diocese e/ou paróquia tem suas regras sobre o assunto. A responsabilidade primeira são dos Bispos e párocos, conforme nos ensina o Código de Direito Canônico:
Para saber sobre as orientações para fotógrafos durante as celebrações litúrgicas numa Igreja/paróquia orientamos procurar, antecipadamente, o pároco ou o coordenador da Pascom.
Nesse sentido, apresentamos alguns conselhos importantes sobre a fotografia no espaço litúrgico:
1º. Sentido do Sagrado
Nisto se diferencia o bom fotógrafo: ter consciência que nas celebrações litúrgicas o Senhor está presente! Fotografar no ambiente sacro não é a mesma coisa que fotografar em qualquer outro local, onde o objeto do clique são as pessoas, valendo-se tudo por um clique. O objetivo da Fotografia Religiosa no espaço litúrgico é deixar Cristo resplandecer.
2º. Respeito e empatia
Ter respeito com os irmãos que estão ali celebrando, vivendo sua intimidade com Deus e não para serem fotografados. Um momento que muitas vezes pode parecer bonito aos nossos olhos, como por exemplo, uma pessoa chorando, pode ser, para aquele que está sendo fotografado um momento de dor. Naquele momento a fotografia torna-se algo inconveniente.
Uma dica respeitosa que damos é a de colocar um aviso no Datashow, discreto, mas que diga que a Pascom estará registrando durante aquela celebração dando a liberdade para aqueles que não querem ser fotografados que procurem os agentes da pastoral para informa-los. Também é importante informar onde serão disponibilizadas as imagens.
Os fotógrafos também devem vestir-se de maneira discreta, evitando bermudas, roupas decotadas, e cores chamativas. Pode-se usar o uniforme da Pascom ou roupas brancas.
3º. Escondimento
O fotógrafo deve ser o mais discreto possível, movimentos modestos, evitar cruzar o corredor de um lado para o outro sem reverência ou bruscamente. Estabeleça pontos para que possa fazer um bom registro sem chamar atenção; caso estejam trabalhando em equipe, dividam-se em pontos laterais. Movimente-se quando a assembleia estiver em pé.
4º. Lugares celebrativos
Toda a área do presbitério (lugar onde encontra-se o altar, o ambão, a sede e o sacrário), deve ser evitada. No presbitério, procure formas de fotografar que não sejam invasivas, para não nos transformarmos em “ruídos litúrgicos”.
5º. As partes mais sagradas do rito
Evitar excessos ao fotografar a proclamação das leituras e do Evangelho; durante a Oração Eucarística, especialmente na consagração e elevação das espécies eucarísticas e durante a distribuição da comunhão.
Nestes momentos devemos nos concentrar com máxima sacralidade e silêncio, devemos ser objetivos, com poucos cliques e com muito discernimento. Outro ponto importante: durante a homilia devemos sentar e ouvir. Fotografar neste momento pode desviar a atenção do sacerdote e das pessoas.
Com essas palavras de São Paulo VI convido os meus irmãos fotógrafos a meditar diante da grandeza em que estamos ao fotografar a Santa Missa:
*Fernando Nunes é criador e professor da Técnica de Fotografia Religiosa.
FONTE: https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2019-07/fotografia-e-liturgica.html