“Toda vocação é graça sua!”

Dom Pedro Brito Guimarães
Arcebispo de Palmas – TO

Há alguns anos atrás li, num cartaz vocacional, não me lembro de quem é a auotria esta frase, me lembro apenas que desde que a li, nunca mais saiu do meu pensamento e do meu coração: “Toda vocação é graça sua!” É sinal de que é uma verdade revelada não perde, com o tempo, a sua validade. Esta afirmação pode ser entendida de duas maneiras, contemporaneamente:

Primeira, toda vocação é graça e missão divinas. Deus, o Pai, é a fonte da vocação. Todas as pessoas são criadas e chamadas pelo Pai, como suas filhas amadas. No momento da nossa concepção dá-se início ao nosso chamado e à nossa missão. É que somos criados com todas as potencialidades vocacionais. Jesus faz ouvir, entender e decodificar este chamado do Pai. Caminhando junto ao mar da Galiléia, Ele fixou o seu olhar em Pedro, André, Tiago e João. Chamou-os e os transformou em pescadores de homens (Mc 1,16-20). “Pescador de homens” é a missão de Jesus de tirará-los – para nos retirar – dos domínios das forças monstruosas que moram nos mares da vida. Jesus é o Filho de Deus em busca dos vocacionados do Pai. E o Espírito Santo internaliza, nas mentes e nos corações, este chamado do Pai, por meio do Filho. Em outras palavras: o Pai é o Criador, o Filho, o Recriador e o Espírito, o Transcriador de todas as vocações. As três Pessoas da Santíssima Trindade nos fazem escutar o que ouviu Jeremias: “antes que te formasse no seio de tua mãe, eu te conheci, antes de saíres do ventre, eu te consagrei e te fiz profeta para as nações” (Jer 1,5-7). Neste sentido, #somostodosjeremias.

E a segunda, toda vocação é fruto de nossa missão. Pelo nosso testemunho e pelos nosso trabalho, o Pai chama a muitos para si e para os serviços do seu Reino e da sua missão. Ninguém é chamado por outros meios, por outras vozes, por outras graças e para outras missões. Somos criados para amar e servir a Deus e para os serviços que a Igreja realiza no mundo. Somos chamados por Deus, pela mediação e para os serviços da sua Igreja. Somos chamados por Deus e para Deus, por meio de sua Igreja, para a sua missão. Na vocação, tudo é e vem de Deus. Depois de Deus, na vocação, tudo vem da Igreja. Sempre assim: vocação e missão para Deus e para a missão de Deus.

Na vocação sempre é mais e sempre é menos: sempre mais Deus e sempre menos nós; sempre mais Igreja e sempre menos eu; sempre mais amor e sempre menos temor; sempre mais fé e sempre menos descrença; sempre mais esperança e sempre menos desespero; sempre mais santidade e sempre menos infidelidade; sempre mais vida e sempre menos morte; sempre mais proatividade e sempre menos reatividade; sempre mais transcendência e sempre menos imanência; sempre mais diálogo e sempre menos monólogo; sempre mais luzes e sempre menos trevas; sempre mais silêncio e sempre menos palavras; sempre mais ouvir e sempre menos falar; sempre mais espírito e sempre menos carne; sempre mais oração e sempre menos transpiração; e sempre mais graça e menos sempre autorreferencialidade. Em questão vocacional, Deus é sempre mais e nós somos sempre menos.

Portanto, puxando pela memória, termino dizendo o que disse o nosso pai na fé, o papa Francisco: “nenhuma vocação nasce para si, nem vive para si. A vocação brota do coração de Deus e germina na terra boa do povo fiel, na experiência do amor fraterno (…) Disponhamos, pois, o nosso coração para que seja ‘boa terra’, a fim de ouvir, acolher e vviver a Palavra e, assim, dar frutos” (Mensagem para o Dia mundial de Oração pelas Vocações, em 11/05/2014).

Por fim, meu maior e mais sincero desejo é que, neste Mês Vocacional, todos possam meditar, rezar, viver e, enfim, dizer: “toda vocação é graça sua!”

FONTE: CNBB