Em Aparecida rezemos pelas vocações

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

 As peregrinações constituem um fenômeno ligado a própria natureza do homem e, em especial à sua fé. Ele se sente um ser a caminho. Sua própria vida é uma caminhada do nascimento para a morte, da juventude para a velhice e, em aspiração mais profunda, uma passagem desta vida efêmera para uma vida mais feliz. Para os cristãos fazem memória de sua peregrinação terrena na caminhada para o céu. Por isso supõe também tempo de conversão e de encontro com Deus.

Por isso, sair de um lugar para buscar outro é próprio do coração humano. O homem é o eterno peregrino, o permanente “procurador” de Deus. Saímos de Deus e estamos em contínua tendência para Aquele que é o nosso princípio e o nosso fim. É daí que o caminhar adquire um sentido especial para o homem. Todos os povos têm seus lugares de peregrinação. É, por assim dizer, o subconsciente universal que está à procura de uma perfeição perdida, o paraíso perdido, na esperança de encontra-lo, o céu.

No Novo Testamento, o nascimento de Jesus está ligado a uma viagem da Galiléia para a Judéia. Temos ainda a fuga para o Egito. E a Sagrada Família de Nazaré cumpria fielmente a lei, conforme nos narra o Evangelho: “seus pais iam todos os anos a Jerusalém na festa da Páscoa. Tendo ele atingido doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume de festa” (Lc 2,41-42). Jesus e os Apóstolos também não deixavam de subir a Jerusalém por ocasião das festas anuais (cf.Jo 5 1; 7,1-14). Temos no evangelho a caminhada de Jesus para Jerusalém onde seria entregue à morte por nós.

Já nos primeiros séculos da era cristã foi muito comum ver os cristãos reunidos, ainda no tempo da perseguição, para levar em procissão o corpo dos mártires até o lugar de seu sepulcro, assim é descrito nas Atas dos martírios de São Cipriano e de outros mais. Conhecemos o famoso “Caminho de São Tiago” que leva tantos peregrinos a fazerem um encontro especial com o Senhor.

A nossa arquidiocese tem atualmente várias rotas de peregrinação reconhecidas e orientadas. Mas a tradição da Romaria a Aparecida da totalidade da Arquidiocese é um fenômeno próprio de nossa realidade e faz parte de nossa tradição, do nosso jeito de ser. Isso faz com que essa romaria seria a maior de uma mesma diocese que vai anualmente à Aparecida.

A primeira Romaria da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro aconteceu em 1902, motivada pelo Cardeal Joaquim Arcoverde, em preparação ao jubileu áureo da proclamação do dogma da Imaculada Conceição, realizado dois anos depois. Foi a partir de 1931, porém, que a peregrinação ganhou maior impulso, após a visita da imagem de Nossa Senhora Aparecida ao Rio de Janeiro, quando proclamada Padroeira do Brasil. Esta peregrinação integra a Arquidiocese numa caminhada em comum. É importante por todo o trabalho evangelizador que a Arquidiocese do Rio realiza. O último sábado do mês de agosto é a data marcada para a peregrinação da Arquidiocese do Rio de Janeiro ao Santuário Nacional de Aparecida, que atualmente tem reunido mais de 60 mil fiéis.

A Romaria de 2019 tem, neste ano, como tema: Ano Vocacional Sacerdotal: “Eis-me aqui, Senhor!” (Is 6,8).

A peregrinação da nossa Arquidiocese a Aparecida neste ano será  no dia 31 de agosto. Teremos uma série de atividades neste dia da peregrinação: a programação da romaria começa às 7h com a recitação do Rosário de Nossa Senhora na Tribuna do Papa. A Missa “O Rio Celebra” será na Catedral Basílica, às 9h, transmitida para todo o Brasil pelas Redes de TV e Rádio. Após a missa, por volta das 10h15, os peregrinos se encontrarão na Porta Santa ou ao lado do Campanário (Sinos) para o início da caminhada continuando a rezar o rosário até o Morro do Cruzeiro. Ali nesse morro faremos a Via-Sacra. Após esses eventos da manhã de sábado, as paróquias e comunidades continuarão sua peregrinação com as programações próprias.

Agradecidos pelo Ano Vocacional Arquidiocesano que tem como tema: “A alegria de servir no sacerdócio ministerial” com o lema “Eis-me aqui, Senhor” (Is 6,8), nós queremos nessa peregrinação colocar todo o nosso coração e anseios no colo da mãe, a Virgem Maria, Mãe dos Sacerdotes, para que nos ajuda a responder com alegria ao Senhor: “Eis-me aqui!” (Is 6,8). Peçamos a Nossa Senhora Aparecida a santificação dos padres, perseverança dos seminaristas e novas, santas e numerosas vocações sacerdotais: de cada comunidade uma nova vocação!

Ao chegar a Belém, os Magos “entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e caindo de joelhos o adoraram” (Mt 2,11). Eis aqui por fim o momento tão esperado: o encontro com Jesus. “Entraram na casa”: esta casa representa de certo modo a Igreja. Para encontrar o Salvador é preciso entrar na casa, que é a Igreja. Por isso confiamos a proteção de Nossa Senhora Aparecida as nossas vocações, os nossos seminaristas, os nossos padres, os nossos bispos, para que entrando em peregrinação na Casa da Mãe Aparecida, contemplando o chamado vocacional do “Segue-me” de Jesus Cristo possamos cantar em nosso íntimo como proclamação de adesão amorosa: Virgem Maria, Mãe dos Sacerdotes: “Eis-me aqui!” (Is 6,8)

Queremos pedir a Bem-Aventurada Virgem que ela como Mãe, zele pelas nossas famílias, particularmente, para que estas famílias sejam celeiros de vocações. Cada família que oferece a Deus um filho para o ministério ordenado está dando eloquente testemunho de profunda adesão ao Evangelho. Nossa Senhora serviu a Deus no silêncio do seu sim, fazendo a sua vontade e colocando-se como servidora. Esse deve ser o modo de viver de todas as vocações, à sombra de Maria, para servir e ir ao encontro das ovelhas perdidas e caminhar pelas periferias existenciais. Foi assim que aconteceu na própria vida de Maria, pois, quando soube que sua prima estava grávida logo se colocou apressadamente a região montanhosa para ajudar Isabel em suas necessidades. Assim, Maria se coloca ao lado daquela família. Nas Bodas de Caná, Maria vê que acabou o vinho na festa de casamento. Que vexame passaria aquele casal, mas, Maria olha para a necessidade daquele lar e logo se coloca em prontidão para interceder ao seu Filho. Nas nossas casas e nas nossas famílias, quantas vezes pedimos que pela intercessão dela tudo seja alcançado para o bem daqueles que amam à Deus. Por isso, de maneira eloquente, nesta Romaria, iremos pedir que Nossa Senhora Aparecida continue intercedendo pelos jovens chamados ao sacerdócio para que respondendo ao chamado do Senhor respondam generosamente “Eis-me aqui!” (Is 6,8) pela intercessão da Virgem Maria, Mãe dos Sacerdotes. Maria nos ama, Maria nos acolhe e olha por cada um de nós.

Somos chamados a dar continuidade a essa peregrinação anual e que faz parte do calendário de nossa arquidiocese indo a Aparecida e ali entregar todas as famílias sob o olhar terno de Maria. Nossa Mãe Aparecida que olha e intercede por todos de nós, toma-nos pelo colo e ajude a cada família e viver sempre no: amor, na fé e na paz.

Nossa Senhora Aparecida, interceda pela paz em nossa cidade, pelo emprego e por vida mais justa e fraterna em nosso meio. Pedi ao seu Filho Jesus que envie santas vocações e as bênçãos para o nosso Seminário que completa neste ano 280 anos de criação para que que continue sendo centro de santidade para a nossa Igreja Arquidiocesana. Caríssimos irmãos e irmãs: nós nos encontraremos em Aparecida e lá junto rezaremos por estas e demais necessidades. Amém.

FONTE: CNBB

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